domingo, 8 de junho de 2014

Tremendão do Paulo Ferro e o Reino da Cerveja da Regiane

Lembro que uma da vezes em que mais me surpreendi com uma cerveja foi no Pub irlandês Santa Brígida, em Gramado, quando eu tomei a Golden Ale deles. Era um Novembro frio, a música ambiente estava excelente (assim como a comida) e eu estava acompanhado do meu amor !

Pois bem, achei que a experiência de experimentar aquela cerveja, naquele ambiente, nunca se repetiria... e eu felizmente estava totalmente enganado! Em um Maio muito mais quente, sem a presença do meu amor (mas com ótima comida e excelente som - tava rolando um DVD do ZZ Top), experimentei a Tremendão do Paulo Ferro, um mestre cervejeiro aqui de Rio Claro, no Reino da Cerveja, bar de cervejas premium da sommelier Regiane Marchiori (sua mulher). Esse post é sobre essa experiência.

Quando cheguei ao Bar (para uma confraternização da empresa em que trabalho) fui recebido pela Regiane, que me disse que o Paulo (que já tinha me prometido levar umas cervejas dele) ia demorar um pouco para chegar. Após um tempo, chega o Paulo e abre uma Coffe IPA de sua autoria. Interessante receita seguindo a escola Britânica (minha preferida), mas que, com a adição do malte certo, ficou com um sabor de café, parecendo uma Stout. Eu achei a cerveja interessante - nunca tinha experimentado uma cerveja com essa combinação. Mas sinceramente, eu achei que ele podia mais... até ele me mostrar um "erro" que tinha cometido, misturando fermentos líquidos e em pó. E esse erro, caros leitores, é o motivo de eu me considerar tão sortudo por um raio poder cair duas vezes em um mesmo lugar !

A idéia da Tremendão era se basear na receita da Delirium Tremens, famosa cerveja belga que tem um elefante rosa no rótulo. Mas o que o "erro" causou ficou muito melhor do que eu poderia imaginar !

No copo, a cor é amarelo turvo, dourado. A espuma é de fácil formação, mas de pequena persistência. O aroma é uma das coisas mais impressionantes, levemente cítrico, com notas de queijo Caccio Cavalo, levemente doce. Sério... aroma com fundo de queijo!

O sabor é de uma cerveja belga, levemente doce, com abacaxi em compota. E é nessa hora que o aroma de queijo deixa de ser uma coisa estranha e passa a ser algo fantástico, pois a combinação lembra queijo com doce em compota (abacaxis e pêssego), com o final do gosto tem de amargor bem leve.

Apesar do alto nível alcoólico (mais de 11%), ele não é muito percebido. Para terminar com chave de ouro, outra surpresa... o retogosto tem um floral (o que é no mínimo impressionante, já que o que geralmente fica no aroma foi para o retrogosto).

Quanto ao custo benefício, ele não se aplica, pois eu ganhei de presente uma garrafa. Mas com certeza, ele seria bem alto, uma vez que a experiência é realmente espetacular.

Para fechar a noite, me deliciei com um New York Burger, presente no menu já algum tempo, e carro chefe da cozinha do Reino.

Se você for ao Reino, talvez não encontre o Paulo lá, e mesmo que encontre, talvez não ele não tenha mais dessa cerveja maravilhosa... Mas se um raio caiu duas, talvez caia três !

Sabor: 5
Aspectos Gerais: 5
Custo Benefício: N/A

Abbage d'Aulne Blonde de Peres

Já falamos da Cervejaria Brasserie du Val de Sambre aqui em outro post. Nesse vamos falar de outra cerveja dessa antiga cervejaria belga.

Seguindo a mesma linha da Tiple, a Blonde deles também é bem equilibrada.

No copo, é amarelo ouro. A espuma é de fácil formação e densa. O aroma é de malte, com fundo levemente azedo, um pouco de álcool.

Como dissemos, o sabor é bem equilibrado, mas puxado para o doce. É bem pouco lupulada e pouco amarga. Uma receita belga clássica, com altíssimo drinkability.

Apesar de não ter um teor alcoólico muito grande (6%), ele pode ser sentido.

Ótimo exemplar de uma boa cerveja belga, porém não senti nada de especial. Quanto ao custo benefício, considero médio-baixo, um vez que paguei R$ 18 a longneck.

Sabor: 3

Aspectos Gerais: 3

Custo-Benefício: 2

Sobre a Brahma Comary e a Copa

Muito se falou nas últimas semanas sobre a Brahma feita com cevada plantada na Granja Comary, sede de treinamento da Seleção Brasileira de Futebol para a Copa do Mundo de 2014. Houve o tal jornalista dizendo que não viu nenhumacevada plantada lá; houve a notificação feroz da Anheuser-Busch InBev ao site Brejas tentando se explicar, e houveram vários internautas tentando fazer cálculos e estimativas para tentar avaliar se seria possível plantar toda aquela cevada ali. Até o CONAR vai iniciar uma investigação...

O fato é que, sendo cevada plantada na Granja Comari ou não, continua sendo a mesma Brahma, com seus eficientes 45% de milho, e sua alcunha de cerveja do trabalhador. Mas há algo nessa edição que faz toda a diferença para o Brasileiro: ela é cara! E brasileiro adora pagar caro nas coisas.

Pagamos caro nas cervejas-lixo que são produzidas aqui, pagamos caro nos estádios da copa, pagamos caro em reforma de estradas, pagamos caro em hospitais fantasmas, pagamos caro em escolas-presídios. Pagamos caro a cada dois anos, quando em Outubro, tratamos nossa política como piada e usamos a nossa única vantagem com total displicência.

Acredito que Brasileiro adora pagar caro nas coisas para poder continuar tendo a desculpa eterna de que o nosso sistema tributário é o que nos "mata" (sendo que, sempre que possível, arruamos aquele recibo com um médico "amigo" para deduzi-lo na declaração). Há uma necessidade inerente em todo brasileiro em burlar as regras e fazer as coisas do jeito errado que me faz achar que a nação brasileira não passa de um adolescente perdido e amedrontado, frente às responsabilidades da vida adulta que o aguarda. Adolescentes são cheios de ideias mirabolantes, planos faraónicos, inconformismos com as regras e principalmente cheios de desculpas! E adoram pagar caro nas coisas!

Mais: nós temos em nossa história uma síndrome de patinho feio – excluído e manipulado pelos grandes patos. Nossa colonização foi com o a “rapa do tacho” da bacalhoada, nossa independência foi “forjada” pela Rainha, nossa sistema de educação foi imposto pelos queijos e vinhos capitalista, nosso golpe militar foi forçado pelo Tio Sam e nossa recente democracia, aquela dos “caras pintadas”, foi articulada pela elite do Plim-Plim.

Nós pagamos caro como uma compensação de auto-estima nacional, para nos mostrar que se temos todo esse capital, um dia quem sabe, com muito esforço, seremos um grande pato. Porém, hoje, pagar caro é nossa única decisão verdadeira!

Pagamos caros nas coisas porque somos adolescentes frustrados, manipulados, inconformados, acomodados e iludidos. Por isso que eu acredito que a Brahma com cevada da Granja Comary é a cerveja perfeita para a Copa do Mundo da FIFA de 2014 – afinal de contas ela É como a Copa... Uma ilusão cara, feita de mais do mesmo, que amanhã vai nos dar uma imensa dor de cabeça!